domingo, 13 de dezembro de 2009

Típico

“Certas pessoas podem ser terrivelmente cretinas quando lhes convém” Alice soltou, enquanto deixava a fumaça do cigarro embaçar sua visão. “Quero dizer, que mal tem demonstrar um pouco? Demonstrar dor, ingratidão, raiva, sofrimento, carinho, amor, gratidão?! Ele sempre está do mesmo típico jeito, com as mesmas típicas calças jeans e regatas brancas, com a mesma típica e pavorosa camiseta xadrez. Entende o que quero dizer, Kat?” Eu soltei a fumaça do meu cigarro e embacei minha própria visão. Aquela meia arrastão que usava estava rasgada em diversas partes; teria que costurá-la. Alice me cutucou com seu cigarro me queimando os ombros. “Você às vezes parece com ele, não digo na questão do mesmo tipo sanguíneo ou do útero ter sido o mesmo. Digo literalmente, o mesmo olhar vago, o mesmo aceno de cabeça, a mesma personalidade contrastante. Isso é no mínimo...frustrante” Alice soltou a fumaça novamente. “ Talvez a mãe de vocês tenha dado a luz a natimortos.” Eu ri com suas palavras. “ Que infame você, Lice” Com isso, Lice saltou do meio fio e ficou em minha frente. “Vamos lá, Katie. Por trás de todo esse cinismo e ironia você está com raiva, certo?! Me difame, me chame de estúpida, vagabunda, qualquer coisa! Pelo amor de Deus, não há como viver guardando tudo isso dentro desse gelo que é seu coração.” Semicerrei meus olhos para olhá-la, sorri novamente. “Você é minha amiga, um pouco otária, concordo, mas sei que tudo que disse são meras palavras para inflar seu ego. Sabe, Lice, no fundo você queria ser que nem eu e meu irmão. Queria não sair por ai desmanchando em lágrimas, queria não entregar seu coração a qualquer um, queria não sangrar para que todos vissem que está doendo. Queria ser gelo também.” Alice me olhou, bufou mais uma vez a fumaça e sentou, c'os olhos marejados. “E você, Katie? Não quer sentir nada?! Sangrar por alguém também? “ Fungou. “É, cansativo, mas vale o que gasta suas glândulas lacrimais” Eu sorri, e beijei sua bochecha molhada. “Não dar para mudar o que a gente é, Lice”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário