quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Insomnia

Há dez anos atrás eu passaria esse dia de forma diferente. A cama seria a mesma, os sentimentos os mesmos, os pensamentos talvez divergentes - talvez, as incertezas de sempre. Lá estaria eu, deitada naquela roupa de cama rosa insatisfeita por ela não ser azul, insatisfeita por ele não estar comigo. Daí, eu levantaria num rompante e pegaria aquele porco rosa de pelúcio ao meu lado, coçaria bem os olhos - para dar a impressão de quem havia acabado de acordar d’um terrível pesadelo; mal sabia eles que aquilo já havia sido premeditado afim de evitar futuros sermões, mal sabia eu da existência da palavra premeditar, era apenas natural. Assim, me arrastaria a passos leves até a sala onde, provavelmente, os dois se encontravam discutindo algo sem importância. Bastaria meus olhos encontrarem c’os dele e a mensagem seria entregue. Ele iria até mim e me abraçaria me levando até o quarto, deitaria comigo na cama e faria aquele insolente brincadeirinha que eu tanto adorava. “Psh, apenas ouça os sons, a melodia deles, a melodia que está nas ruas. Tente decifrá-las, como um segredo de gaveta.” ele diria, eu iria sorrir e fechar os olhos. “Aqueles barulhentos estão nas escadas, subindo os degraus. Pra quê?” ele começaria, daí seria a minha vez ” A Maria do 304 fez pudim pra sobremesa, uma festa.” eu sabia de seu fascínio por pudim, e sabia que pudim era o que se encontrava em seus pensamentos agora. Ele me olharia de esguelha, e eu riria baixinho. “Violão no 104?” ele olharia pra mim e assentiria “O velho Augusto nunca se cansa de tocar, não é?!” Eu simplesmente amava o Sr. Augustinho e suas cantorias noturnas. Depois disso, ele seguraria minha mão e ficaria murmurando a melodia pra mim. Meus olhos estariam fechado, minha mente aberta. Aquilo nunca poderia mudar, ele nunca poderia mudar. Era tudo tão correto, tão certo que mudar parecia loucura, delírio. As pessoas permaneceriam simples e constante, certo?!

Deveria ser, mas o tempo acontece. Dez anos acontecem. Nós acabamos por descobrir que as variáveis existem. As coisas se complicam. E nada permanece.

Nenhum comentário:

Postar um comentário