sábado, 12 de setembro de 2009

Relatório - Vítima Um.

O quarto era semi-vazio e branco. Branco cor de geladeira, talvez braco-gelo. Isso, definivamente, branco-gelo. Quanto ao "semi", era por causa do enorme puff preto no qual eu estava sentada e pela mulher, sentada no tapete vermelho-sangue, frente a mim. O resto era branco-gelo e vazio. Lisa, era seu nome ou pelo menos o nome que ela tentava dar para si mesma enquanto usava aquele crachá. Lisa tinha enormes olhos verdes-mel, cabelos loiros-brancos pintados e unhas vermelhas-vinho pintadas. Lisa era baixa e tinha a pele alva, parecia um anjo. Não. Anjo seria muito angelical para tal profissão. Lisa era delicada e possuia um sorriso cativante. Eu adoraria Lisa e suas roupas sessentistas senão estivesse sentada naquele enorme puff preto.
- Pode começar quando quiser. - Lisa falou gentilmente. Eu acenei com a cabeça. - Me descreva o local ou desenhe, caso queira.
Peguei a caneta e o papel lentamente e comecei os traços. Nunca fui boa em desenhos, nunca fui boa em muitas coisas, mas aquele desenho parecia o pior de todos. Os traços antes leves ficaram fortes e escuros, e n'um acesso de raiva por não conseguir mostrar exatamente o quê eu mentalizava em minha cabeça rasguei o papel. Lisa se assustou um pouco. Sorri para Lisa. - Desenhos me irritam.
- Tudo bem, querida. - Lisa puxou o papel delicadamente por debaixo do meu braço. - Tente as palavras.
- Estávamos em um jardim. Tinham flores amarelas, azuis e violetas. Eu, particularmente, gostei das violetas. Tinha um caminho de pedras, pedras marrons, e uma estátua estrambólica de anjo perto da porta da casa.
- Você entrou na casa?
- Ele não me deixou. Eu tentava tocar na estátua, até a apelidei de henry. Era um anjo homem, apesar de anjos não terem sexo como dizem. Ele parecia homem para mim, parecia Henry.
- O que ele fez pra te impedir? - Lisa me interrompeu e aquilo me irritou, porém me contive e respondi sua pergunta.
- Ele me puxou e amarrou meus braços, daí então colocou uma venda em meus olhos e me disse numa voz rouca e doentia "Melhor ficar quieta, mocinha". Eu sorri, porque meu pai costumava me dizer isso, mas depois o sorriso se apagou quando ele me empurrou me fazendo cair no chão. Eu não chorei, mas em outras circusntâncias choraria.
- Agora, você estava sem venda antes.. me diga como ele é.
- Olhos escuros, quase pretos. Rosto fino, não tão fino mas fino o suficiente para ser delicado. Bochechas pouco salientes e cabelos castanhos escuros. Era lindo.
- Lindo? - Lisa anotou. - Interessante. E como ele agia? Diga mais.
- Era amável, de forma cruel e doentia com os outros mas amável para mim. Ele sempre me vendava e dizia "Não precisa ver isso, mocinha" Já lhe disse que ele lembrava o meu pai?! - Lisa sorriu e acenou positivamente com a cabeça. - Nessa vez que ele me empurrou eu fiquei realmente triste, mas logo depois, de uns dez vinte ou trinta minutos, ele me puxou novamente me fazendo levantar. Tirou minhas vendas e sorriu. Seu sorriso era lindo para mim. Eu lhe perguntei se podia tocar Henry e ele disse que sim e riu levemente. Seu riso era encantador para mim. - Lisa arregalou os olhos e continuou anotanto, visto que eu parei de falar ela parou de escrever. Me olhou e me deu um sorriso estranho, algo como pena. Rabiscou coisas no cabeçalho do papel e se levantou. Largando-o sob o tapete.
- Muito bem, querida. Nossa sessão acabou, pode ir agora. - Eu me levantei e para lhe dar um abraço. - Não o machuque. - Sussurrei.

" Classificação do paciente: Apresenta Síndrome de Estocolmo - Duvidar dos fatos"

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